sexta-feira, 12 de outubro de 2012

And so it is...

Funchal, 23:30 locais (17:30 peruanas).

A música melancólica ecoa pelos meus ouvidos... Pego no mighty MacBook e sento-me à frente dele para escrever estas palavras. Olho para trás, para o que passou, para o que procurava e penso...

Reli todo este diário. As histórias, os pensamentos, os erros ortográficos e os lapsos. Decidi não modificar nada, fica depois para a versão em papel. Escrito assim fica mais puro e verdadeiro, cada lapso tem uma explicação, cada erro contém a ânsia de partilha da aventura.

Lembro-me de quando e onde escrevi cada post. Lembro-me dos pensamentos associados a cada post, das recordações que desencadearam a sua escrita, das pessoas que conheci.

Penso em cada uma delas e no que estarão a fazer neste momento. A Lis, o Elias, o Freddy, a Maya, os meus companheiros de viagem... Será que se lembram de mim (sim, Anas e Alex, o passeio e jantar fica prometido para quando possível!)? Será que a miudinha campesina continua a pedir chocolates aos campistas? Será que o Elias já construiu o primeiro andar?

Releio os meus primeiros posts...

"Existe um chamamento para partir..."

Sim, existe. Existe e ao invés do que pensava, apenas cresceu.

Relembro o episódio dedicado ao Peru do "No Reservations" do Anthony Bourdain...

"A prohet once said: don't tell me what a man says, don't tell me what a man knows, tell me where he has travel... and I wonder abou that, do we get smarter, do we get wiser when we travel? Does travel bring wisdom? I think there's no better place to find out than in Peru"...

Penso nestas palavras. Acreditava no mesmo, que no Peru descobriria um pouco mais sobre mim, sobre o que queria, para onde ia e o que me rodeava.

Se me tornei mais sábio? Talvez. Mais feliz? Talvez. Mais triste? Também talvez.

Creio que não me tornei muito mais do que já era. Viajar claramente enriquece em vários aspectos mas será que realmente nos modifica? Será que muda a forma como encaramos o dia-a-dia? Será que coloca tudo numa outra perspectiva?

Na Disney em Orlando o slogan dos parques era "let the memories begin!".
Achei isto delicioso. Acho que resume tudo.

No fundo não nos tornamos mais sábios, melhores pessoas, mais conscientes. O que fazemos é coleccionar memórias, imaginações, experiências e afinal, não será isso a vida? Não será essa a finalidade? Memórias, experiências, vivências?...

No Peru e Argentina coleccionei tudo isso. Das boas, das más, das que sorrio quando olho para trás...

É o mesmo sorriso que me aparece quando releio este blog.

Melancólico? Sim. Nostálgico? Um pouco.

Amanhã? Mais um pequeno passo nesta longa viagem...

Adaptando Che - Hasta la descubierta, siempre! 

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Day 18 - As time goes by...

Buenos Aires - 06:00

Dia de regresso a Portugal. Fim de aventura. Capout. No more. Finito.

São 07:00 e encontro-me a caminho do aeroporto. O taxista é um senhor idoso mesmo old school. Abre a porta, encontra-se de colete, super expressivo, catita e orgulhosamente argentino.

Paramos num semáforo. A passadeira é atravessada por um grupo de miúdas que regressam de alguma discoteca. Completamente com os copos, vão arrastando as suas mini-mini-saias perpetuando a sua triste figura em fotografias desenquadradas tiradas na hora.

O taxista reclama. Abana a cabeça e olha para mim à procura de um comentário. Sorrio e benzo-me para ele.

Aeroparque Jorge Newbery. Mais virado para voos domésticos e...brasileiros. Encostamos, 80 pesos conforme combinado mas não tenho o dinheiro certo, nem o homem troco. Dá-me a diferença em reais. Faço uma rápida conta e creio que não me está a tentar enganar muito. São 07:30 e não quero começar o dia a discutir em castelhano (ou será argentino?).

Check-in. Despeço-me da minha mala e desejo-lhe boa sorte enquanto parte em direcção a Lisboa. O itinerário de hoje levar-me-á num voo de três horas até São Paulo, mais três horas de espera nesta cidade, até apanhar o voo da TAP até Lisboa (praticamente dez horas).

O mamute que se encontra no balcão de check-in informa-me que apesar de a bagagem ficar despachada até Lisboa, terei que fazer novo check-in em São Paulo. Por que raio isto não me soa bem?...

Ainda "queimado" da experiência/seca com os serviços de emigração em Lima, dirigo-me rapidamente para as portas de embarque. Aqui, começa todo um belo episódio digno de um filme.

Raio-x. Verificação do cartão de embarque por um segurança. O polícia a seu lado - puto novo com ares de armado em campeão - pergunta-me para onde vou. Respondo: "destino final: Lisboa, Portugal (não tem ar de saber onde fica...)".

Enquanto passo a bagagem de mão pelo raio-x, reparo que o puto polícia aproxima-se de outro segurança e diz-lhe algo. A partir daqui já sei o que vai acontecer.

Tiro a bagagem de mão e um segurança mais idoso aproxima-se de mim. "Fazia o favor de me acompanhar?" (não sei como se diz em castelhano mas era isto...).

Como se uma pessoa tivesse alternativa...

Vou tranquilo até um balcão mais privado e longe dos olhares indiscretos.
Verificação do passaporte e começa o interrogatório. "Para onde vai? Donde vem? Quanto tempo esteve no Peru? O que foi fazer ao Peru? Por onde andou por lá? E em Buenos Aires? O que veio cá fazer? Quem é essa sua amiga? Onde mora a sua amiga? Onde é que você ficou hospedado? Quanto tempo ficou cá? Por que sítios andou em Buenos Aires?"

Vou sorrindo e respondendo. Até acho uma certa piada à coisa. Pergunto-me o que ele terá achado dos carimbos do Dubai e dos Estados Unidos no meu passaporte... provavelmente reforçou-lhe a ideia de eu ser um perigoso traficante de droga.

Desconfiado, pergunta-me com um sorriso fraternal "occupación?".
Respondo com outro sorriso "abogado!" (apenas invoco a minha antiga profissão quando me dá jeito)...

O senhor fica aparvalhado. Pisca os olhos. Olha melhor para mim. Barba por fazer, todo maltrapilho, de mochila às costas e cara de puto.

"Tienes un comprobativo?". Saco da minha cédula profissional.

A partir daqui o nível de surrealismo aumenta. Examina a cédula e começa a rir. Chama os seguranças todos. O raio-x fica abandonado, o polícia puto vem a correr. Mostra a cédula a todos dizendo "olha como se escreve advogado em português!". A cédula passa de mão em mão, todos curiosos, todos a olharem para mim. Onde raio me vim meter?

Deixam-me ir em paz rapidamente entre sorrisos e votos de boa sorte e viagem. Fuck, bem que podias ter perguntado a "occupación" logo de início!

Passa a emigração. Novamente um mamute mas este nem fala. Melhor assim. Tiro os óculos, sorrio para a câmara e pergunto-me que raio eles fazem com o registo de fotos. Aposto que iria ficar o máximo como foto de perfil no Facebook.

Como ainda tenho uma hora até o embarque dirigo-me até ao Duty Free. Fiquei de levar dulce de leche para uma amiga e aqui é bem mais em conta. Procuro e encontro. Verifico o rótulo "650 gramas". Gramas. Estava com receio que pudessem implicar se a coisa estivesse em litros e fosse efectivamente líquida. A ver vamos...

São 10:30 e o Embraer 190 rola na pista activa. Volta pela esquerda em direcção ao rio plata e não consigo vislumbrar Buenos Aires uma vez mais de cima. Em compensação, vou explorando o ecrã individual que a Austral Airlines me proporciona em económica. Escolho os Simpsons e "How I met your mother". Refeição quente, nada mau para um voo de três horas. Comparo tudo com a última experiência na Europa num voo de duração semelhante (Funchal-Londres na TAP). Parto-me a rir...

Ao meu lado, um casal idoso argentino-brasileiro-espanhol. Ao preencher o papel da imigração brasileira, o senhor topa que sou português. Tou tramado. É galego. Faz logo uma grande festa. Descobre que sou da Madeira. Maior festa ainda. Diz que adora a ilha e que quer lá voltar em breve.

Não deixa de ser curioso. Mesmo no Peru, o conhecimento de Portugal e dos portugueses é generalizado (em contraste com o que se passa noutros países ditos desenvolvidos, ex: States..) e mais curioso ainda, todos os com quem me cruzei (excepção ao Elias), conheciam/sabiam da Madeira, elogiavam-na (chup* Merkel...) e faziam uma grande festa, até a guia Liz em Arequipa. Olho para os meus botões e pergunto-me se o nosso país não é demasiado atrasado em termos de mentalidade, se não nos maldizemos em demasia e damos pouco valor ao que é nosso. Creio que com este capital de popularidade, devidamente explorado em termos turísticos, a recuperação económico-financeira de Portugal seria acelerada (isto depois de termos instaurado a IV República, I República Miguevariana), em particular, com esta popularidade e imagem inatacável da Madeira junto dos estrangeiros com quem me tenho cruzado nos últimos tempos (que, ao contrário dos meus amigos continentais e restante cambada, ignoram questões políticas corriqueiras e dão valor ao que é essencial e que nenhum buraco pode engolir...). Enfim mas isto são devaneios para outras paragens.

"Nos blocos" à hora certa e desembarque. De volta a São Paulo Guarulhos. Provavelmente o aeroporto mais feio que existe no mundo.

À saída procuro indicação das transferências. Benzo-me (bolas, tou a ficar religioso??). Uma rapariga simpática explica-me: devo passar a segurança e esperar na porta de embarque que o pessoal da TAP me dê um cartão de embarque. Fuck. Que raio de sistema marado é este? O meu único comprovativo de viajante é o talão da bagagem. Guardo-o bem guardadinho.

Segurança. Duas monas com ar de burras. Isto vai dar m*rd.. Bingo! A lôraburra que olha para o ecrã dá um pulo. "Nossa!". Já sei o que aí vem ou aliás, vai... Adeus dulce de leche. Ainda tentei argumentar que aquilo não era líquido, que a embalagem estava em gramas conforme o rótulo. "Ahh é muitxo grandiii!" (sim filha, eu sei...). Nada feito. Tenho de investigar isto melhor. Pergunto-lhes se também querem os bombons. São mais 450 gramas! Mais tarde verifico as regras internacionais. Por "líquidos" incluem-se eventuais "pastas" (creio que podia enquadrar aqui o doce de leite) mas as embalagens têm que expressar-se (e os limites são impostos) em litros/mililitros.

Guarulhos. Tenho de mudar de terminal. Como tenho tempo arrasto-me. Sigo as instruções da rapariga das transferências e percorro o terminal 1 de uma ponta à outra. Não há nenhuma indicação de como aceder ao terminal 2. Revejo as instruções e refaço o percurso. Desisto e pergunto a uma outra funcionária com ar minimamente simpático. "Volte tudo para trás e depois tem umas escadas num canto. É só subir!".

Magnífico. Guarulhos além de ser feio, é incrivelmente disfuncional. Quem vem das transferências e chega ao terminal 1, fica imediatamente de costas para o acesso ao terminal 2, sendo que, em qualquer caso, não existe indicação deste junto das ditas escadas escondidas a um canto.

Chego à porta. Passam duas das três horas. Voo atrasado mais uma hora. Bonito. Mudança de porta. Novamente bonito. O avião escalado é o CS-TOB, A340 renovado com ecrãs individuais na económica. Com o atraso e mudança de porta fico logo com um feeling que a aeronave foi trocada à partida de Lisboa por um dos outros chaços velhos.

Na sala de embarque o caos é total. Visivelmente pequena para lidar com tanta gente, ainda falta uma hora e meia para o embarque e os passageiros já fazem fila. Espero que chegue o pessoal da TAP. Finalmente... Não me lhes dirigo de imediato. Decido esperar. "Passageiro Fernando Campos com destino a Lisboa, favô contactar a TÁPi portão 17!". É sempre engraçado ouvir o nosso nome pelos altifalantes do aeroporto...

Cartão de embarque na mão e lugar sentado perdido, encosto-me à parede. Ao meu lado, um espanhol constantemente ao telemóvel. Quando se cala, já eu estou na fila de embarque. Pergunta-me que filas estão a embarcar e cola-se. Mete conversa. Dou-lhe trela apesar de perceber que apenas quer-se colar. Em qualquer caso, como também não vamos a lado nenhum, continuo. É asturiano mas a mãe vive em Lisboa. Vai lá passar um dia antes de ir para Bilbao. Surprise, conhece a Madeira! Nova festa (eu não sou de intrigas caros amigos continentais mas...)!

Encaminhados como sardinhas em lata, chegamos ao A340 que nos espera. Shit. É o CS-TOC. O único sistema de entertenimento a bordo é um ecrã CRT que mal vejo do meu lugar à janela. Retiro um exemplar de todos os jornais disponíveis para me ocupar. O avião em si acusa o desgaste dos anos mas até é bom ouvir português-português.

Ao meu lado senta-se uma moça jovem. Brasileira, vai numa excursão. God, também conhece a Madeira...e esqueceu-se da escova de dentes. Felizmente passa o resto do voo a dormir e não me chateia mais.

Tento fazer o mesmo mas tenho uma dificuldade enorme em dormir num avião. Estico as refeições ao máximo. Os jornais estão mais que despachados. Saco do iPhone e escrevo um par de posts para fazer o upload quando chegar a Lisboa.

São 07:30 portuguesas, 04:30 argentinas e 02:30 peruanas. Volta pela direita, Tejo do lado esquerdo e amanhecer nebuloso em Lisboa. Alinhados, "borrachas ao vento" (ops, já não estamos no Brasil..) e o TOC toca suavemente na pista 21 da Portela.

Desembarque...saio do autocarro para passar o controlo de passaportes e...ok, é o caos completo. Disse caos? Não, é a selvajaria completa. Chegaram os voos todos do Brasil e de África ao mesmo tempo. Pensava que estaria safo pois iria pelas máquinas de passaporte electrónico ou em último recurso pela linha rápida de cidadãos da União Europeia. Errado. Máquinas a meio da fila avariam. Fila gigante transfere-se para a fila comum da União Europeia. Deixa de haver fila e respeito. Ao meu lado uma família típica corre...mas meus amigos, não é para todos, correm de tabuleiro de refeição do voo na mão, devidamente envolto em película aderente. "E mai nada"!

Confirmo. Cheguei a Portugal.

Quando chego - 45 minutos depois - ao tapete atribuído, a bagagem já se encontra disponível. Com muita pouca fé espero...mas milagre dos milagres (terá sido das benzeduras? estou convertido?), a super-mochila aparece imaculada, de laranja resplandecente e...inteira!

Feliz da vida, encaminho-me porta fora! Ninguém me pode parar! Quero chegar rapidamente a casa para dormir devidamente pois tenho novo voo às 23:00 para o Funchal.

Ninguém, ninguém, não...
"Nada a declarar". Pois é, não queria prestar declarações mas queriam falar comigo.
Here we go again...

"Bom dia caro senhor. De onde vem? Pode-me acompanhar?".
Duas senhoras, simpáticas e extremamente educadas. Perguntas do costume. "De onde vem", "quanto tempo por lá ficou"... enquanto vou abrindo os quatro cadeados da super-mochila.
Ainda penso dizer "sou advogado" mas estamos em Portugal, o truque é capaz de funcionar ao contrário.
Felizmente a coisa é rápida. Mal a senhora abre a mochila e sente o pivete a roupa suja, desiste. Revira um pouco as coisas e já há meias sujas a saltarem dos sacos de plástico para o chão.
Problema resolvido.
"Pode seguir! Obrigado!"...

Jogo-me na cama e reponho o sono o dia todo. Creio que não chega...

Nova ida para o aeroporto. Novo voo. Nova aterragem.

São 00:45 quando desembarco e sou bafejado, atormentado, envolvido, pela humidade e calor madeirense. Mal dá para respirar. Aos 5000 metros respirava melhor que aqui mas é bom estar em casa...

Penso no tempo que passou, nas aventuras que passaram e nas pessoas que conheci, enquanto olho melancolicamente para a minha mochila a ser atirada e violada pelo tapete das bagagens.

Lembro-me da conhecida música - "As time goes by..." do filme "Casablanca"...

This day and age we're living in 
Gives cause for apprehension 
With speed and new invention 
And things like fourth dimension.



Yet we get a trifle weary
With Mr. Einstein's theory.
So we must get down to earth at times
Relax relieve the tension

And no matter what the progress
Or what may yet be proved
The simple facts of life are such
They cannot be removed.

You must remember this
A kiss is just a kiss, a sigh is just a sigh.
The fundamental things apply
As time goes by.

And when two lovers woo
They still say, "I love you."
On that you can rely
No matter what the future brings 
As time goes by.

Moonlight and love songs
Never out of date.
Hearts full of passion
Jealousy and hate. 

Woman needs man
And man must have his mate
That no one can deny.
It's still the same old story
A fight for love and glory
A case of do or die.
The world will always welcome lovers
As time goes by.

Oh yes, the world will always welcome lovers
As time goes
by.


THE END!

sábado, 15 de setembro de 2012

Day 16 & 17 - Janie Jones

Disclaimer: sim, estão dois dias juntos num único post porque na minha cabeça é o que faz sentido...

Plaza Palermo Viejo, Buenos Aires, 10:00

O dia nasce com um sol radioso e uma temperatura demasiado alta para uma pessoa alérgica ao calor - como é o meu caso...
Lá fora, os habituais utentes da praça começam o seu dia... Dezenas de cães a ladrarem, passearem, brincarem e a procriarem no parque. É algo comum neste país, todos parecem verdadeiramente felizes nas suas vidas (ou disfarçam bem), até os cães!

Encontro-me com o Fede e apanhamos o metro para a baixa. Hoje vamos percorrer as principais artérias e pontos de interesse da cidade. Plaza Mayo, Teatro Cólon, Obelisco, zzzz...

O Fede esforça-se. Não é fácil ser guia turístico de um gringo avariado como eu. Mal entramos ou paramos nos sítios. Não tiro uma única fotografia. Não é por mal, simplesmente ainda não estou com o chip ocidental ligado.

Continuamos - já com a Sofia - até à zona mais recente da cidade. Conquistada ao rio, faz lembrar o Parque das Nações. Almoço na Bisteka. Carne. E mais carne. E carninha. E só mais um bocadinho. Argentina, da boa pois claro (alto! não estou a fazer nenhuma alusão ou referência às virtudes das raparigas argentinas!)...

O dia prossegue tranquilo como o rio plata e pesaroso como a minha barriga peruana...

ZzzZzz...

Sábado. 16:00. Após almoço com os suspeitos do costume lá no bairro, metemo-nos num taxi a caminho do exterior de Buenos Aires, em direcção ao delta do rio.

Isto promete. Aniversário do irmão do Fede. Intimista, na nova casa, com a família chegada.
Bem gringo, querias ver o modo de vida argentino? Mais perto que isto é complicado.

A Sofia já me tinha avisado que o Fede e os irmãos partilhavam do meu gosto musical por bandas punk rock (The Clash à cabeça) mas isto era de um fanatismo inesperado. Fotos com Joe Strummer, livros, postais, DVDs, tudo o que um verdadeiro punk rocker apaixonado pode desejar. O próprio irmão do Fede, com o seu cabelo encaracolado desorganizado e espírito rebelde latente (misturado com a seriedade necessária para ter os pés assentes na terra e que apenas os 40 anos podem oferecer) parece, todo ele, um punk rocker actual.

O aniversário decorre com a naturalidade que uma familiaridade argentina me proporciona desde o início. Confortável. Com fotos. Com prendas (vim preparado com uma caixa de Havanetes - basicamente bolinhos de cholocate por fora e doce de leite por dentro).

As culturas pelo mundo fora podem ser distintas. As tradições, os costumes e as línguas. Na Argentina, tudo me parece familiar. É como estar em casa.

Final do aniversário. Saco do iPhone e lanço uma música dos The Clash (há que testar o fanatismo desta gente). A duração da música ainda vai nos 00:02 e já o irmão do Fede vira-se para mim e num misto de ar alucinado com encantado diz "Ah! Janie Jones!".

Aproveito o YouTube e faço play do White Riot @ Victoria Park, um excerto de um documentário sobre os The Clash. OK. YouTube é para meninos. Poucos segundos depois, o DVD original do documentário está a passar.

Punk rockers argentinos e portugueses (creio que o Fede tenta fazer moche à Sofia - que incrédula e divertida, foge!).

É bom estar em casa...


The Clash - Janie Jones

He's in love with rock'n'roll woaahh
He's in love with gettin' stoned woaahh
He's in love with Janie Jones
But he don't like his boring job, no...

An' he knows what he's got to do
So he knows he's gonna have fun with you
You lucky lady!
An' he knows when the evening comes
When his job is done he'll be over in his car for you

An' in the in-tray lots of work
But the boss at the firm always thinks he shirks
But he's just like everyone, he's got a Ford Cortina
That just won't run without fuel
Fill her up, Jacko!

An' the invoice it don't quite fit,
There's no payola in his alphabetical file
This time he's gonna really tell the boss
Gonna really let him know exactly how he feels
It's pretty bad!

Let them know - how you feel

Day 16 & 17 - Janie Jones

Disclaimer: sim, estão dois dias juntos num único post porque na minha cabeça é o que faz sentido...

Plaza Palermo Viejo, Buenos Aires, 10:00

O dia nasce com um sol radioso e uma temperatura demasiado alta para uma pessoa alérgica ao calor - como é o meu caso.
Lá fora, os habituais utentes da praça começam o seu dia... Dezenas de cães a ladrarem, passearem, brincarem e a procriarem no parque. É algo comum neste país, todos parecem verdadeiramente felizes nas suas vidas (ou disfarçam bem), até os cães!

Encontro-me com o Fede e apanhamos o metro para a baixa. Hoje vamos percorrer as principais artérias e pontos de interesse da cidade. Plaza Mayo, Teatro Cólon, Obelisco, zzzz...

O Fede esforça-se. Não é fácil ser guia turístico de um gringo avariado como eu. Mal entramos nos sítios. Não tiro uma única fotografia. Não é por mal, simplesmente ainda não estou com o chip ocidental ligado.

Continuamos - já com a Sofia - até à zona mais recente da cidade. Conquistada ao rio, faz lembrar o Parque das Nações. Almoço na Bisteka. Carne. E mais carne. E carninha. E só mais um bocadinho. Argentina, da boa pois claro (alto! não estou a fazer nenhuma alusão ou referência às virtudes das raparigas argentinas!)...

O dia prossegue tranquilo como o rio plata e pesaroso como a minha barriga peruana...


ZzzZzz...


Sábado. 16:00. Após almoço com os suspeitos do costume lá no bairro, metemo-nos num taxi a caminho do exterior de Buenos Aires e em direcção ao delta do rio.
Isto promete. Aniversário do irmão do Fede. Intimista, na nova casa, com a família chegada.
Bem gringo, querias ver o modo de vida argentino? Mais perto que isto é complicado.

A Sofia já me tinha avisado que o Fede e os irmãos partilhavam do meu gosto musical por bandas punk rock (The Clash à cabeça) mas isto era um fanatismo inesperado. Fotos com Joe Strummer, livros, postais, DVDs, tudo o que um verdadeiro punk rocker apaixonado podia desejar. O próprio irmão do Fede, com o seu cabelo encaracolado desorganizado e espírito rebelde latente (misturado com a seriedade necessária para ter os pés assentes na terra e que apenas os 40 anos podem oferecer) parece, todo ele, um punk rocker actual.

O aniversário decorre com a naturalidade que uma familiaridade argentina anda-me a proporcionar desde o início. Confortável. Com fotos. Com prendas (vim preparado com uma caixa de Havanetes - basicamente bolinhos de cholocate por fora e doce de leite por dentro).

As culturas pelo mundo fora podem ser distintas. As tradições, os costumes e as línguas. Na Argentina, tudo me parece familiar. É como estar em casa.

Final do aniversário. Saco do iPhone e lanço uma música dos The Clash (há que testar o fanatismo desta gente). A duração da música ainda vai nos 00:02 e já o irmão do Fede vira-se para mim e num misto de ar alucinado com encantado diz "Ah! Janie Jones!".

Aproveito o YouTube e faço play do White Riot @ Victoria Park, um excerto de um documentário sobre os The Clash. OK. YouTube é para meninos. Poucos segundos depois, o DVD original do documentário está a passar.

Punk rockers argentinos e portugueses (creio que o Fede tenta fazer moche à Sofia - que incrédula e divertida, foge!).

É bom estar em casa...


The Clash - Janie Jones

He's in love with rock'n'roll woaahh
He's in love with gettin' stoned woaahh
He's in love with Janie Jones
But he don't like his boring job, no...

An' he knows what he's got to do
So he knows he's gonna have fun with you
You lucky lady!
An' he knows when the evening comes
When his job is done he'll be over in his car for you

An' in the in-tray lots of work
But the boss at the firm always thinks he shirks
But he's just like everyone, he's got a Ford Cortina
That just won't run without fuel
Fill her up, Jacko!

An' the invoice it don't quite fit,
There's no payola in his alphabetical file
This time he's gonna really tell the boss
Gonna really let him know exactly how he feels
It's pretty bad!

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domingo, 9 de setembro de 2012

Day 15 - Lost in translation

Buenos Aires - 09:00
(13:00 portuguesas / 07:00 peruanas)

"Despertar em Buenos Aires"...

Pode soar muito bem quando escrito e imaginado mas na prática é semelhante a qualquer outro sítio (excepto numa tenda a 4500m).

Como o pequeno-almoço supostamente é servido até às 10:00, são 10:30 quando me lanço à descoberta de "Palermo", o bairro hip e na moda onde se situa o meu hotel.

Estranho.

Estranho percorrer uma cidade sozinho depois de quinze dias intensos em companhia.

Estranho passar para uma cidade completamente europeia vindo de algo entre o 3º e 2º Mundo.

Estranho ver cães a serem passeados em matilhas de 10 ou 20 por "passeadores profissionais" ao invés de andarem a vigiar rebanhos.

Estranho ver trânsito organizado e respeitador dos peões.

São 11:00 e as lojas e cafés começam lentamente a abrir. Acho estranho (lá está) abrirem tão tarde, fico a pensar se será assim por toda a cidade e país (mais tarde descubro que é só neste bairro). Não existe vivalma nas ruas...terei acertado o relógio decentemente?

Não sei porquê mas sinto-me em Paris. Aliás, mais confortável que em Paris porque aqui não existem franceses, nem sacos de lixo transparentes pelas ruas.

Sentindo-me estranho e perdido, decido entrar num cáfe (parisiense pois claro). O funcionário traz-me o menu de almoço. Olho outra vez para o relógio a confirmar (11:30)...

Seguindo o conselho da minha amiga argentina, decido pedir duas "medialunas" com a ilusão e imagem que seria algo típico. Trazem-me dois croissants simples e pequenos. F*ck me...estou mesmo em Paris!

Buenos Aires é assim. A cidade parece europeia, as pessoas europeias, a comida europeia, até os cães europeus! Diria que têm um toque italiano na medida que justificam tudo como produto típico, criado e inventado na Argentina...

"Dulce de leche"? Argentino (basicamente leite condensado cozido que se encontra em qualquer supermercado)!

"Medialunas"? Argentinas!

Talvez seja o impacto de me ter transportado de um mundo não necessariamente ocidentalizado para a ocidentalização pura, o que me está a moldar a mente para ver tudo com outros olhos (parciais e/ou viciados)...

Desisto de continuar na perdição e regresso ao hotel, a tarde promete ser diferente...

15:45, esquina da Fe com a Thames, junto ao café Havana.
Olho a multidão que passa. São muitos mesmo. Buenos Aires é uma cidade imensa mas é fácil de explorar e orientar-se, está tudo organizado em quarteirões (quadras). Onde fica o hotel? 8 quadras em frente e uma para a esquerda.

Observo as faces e o rebuliço. Parece Lisboa em hora de ponta. Tudo a falar castelhano (castelhano não, argentino!!). Muito rápido, não percebo nada. Sozinho, estranho e sem perceber puto. Lost in translation...

Nisto, miro a passadeira. Ao fundo, uma cara familiar. Sofia! Pisco os olhos novamente (isto de estar sem lente de contacto...). É mesmo ela! Sorriso rasgado, passo decidido. Um ano depois, é como se estivesse estado com ela ontem.

A partir daqui, a experiência argentina muda radicalmente. Passamos ao que eu mais gosto. Conhecer e viver como um argentino. Seguimos de metro (o metro mais antigo da América do Sul!) até aos limites da cidade. Aqui, apanhamos um taxi (são em conta para pequenas distâncias) até ao bairro onde ela mora. Residencial, tranquilo, argentino.

Colocamos a conversa em dia no café do bairro. Em frente, o típico argentino pintas (todo enchido e último grito) aproveita o wi-fi do café para trabalhar. Mais dulce de leche sff!

Mais tarde, o Fede (namorado nativo da Sofia) junta-se a nós. Rapaz impecável, simpático e com uns impressionantes 1,97m. A conversa segue num misto de português, espanhol, brasileiro e italiano.

Uns passos mais e encontro-me no apartamento deles.

Encomendamos comida típica argentina. Umas espécies de empadas/rissóis (bem saborosos) e algo que me fez lembrar empadão de carne mas envolto e cozido numa folha de milho (Sofia, depois confirma-me os nomes!). Bem bom.

Paro um pouco. Olho para trás e para o presente. Boa conversa, gente amiga, boa comida.

"Jantar num apartamento com amigos em Buenos Aires".

É tão bom quanto soa...

Life in Argentina continues...

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Day 14 - Adios chicos!

Lima - 06:00

A mesma sala de pequeno-almoço com que comecei este relato. A esta hora está vazia, só os tugas a ocupam e já estão a reclamar. O pequeno-almoço só abre às 06:30 mas a essa hora já temos de estar a caminho do aeroporto (mais de 4 horas antes do voo). O rapaz responsável tenta fazer o seu melhor. O Alex está implacável . Sinto pelo miúdo mas realmente...assim não vai lá!

Despedimo-nos de Lima e quando chegamos ao aeroporto percebemos o porquê de termos de estar 4 horas antes. O grupo vai para Madrid na Air Europa (eu não..). A fila de check-in é gigantesca. Quando digo gigantesca é no sentido de dar duas voltas no comprimento total do terminal. Apenas três balcões estão abertos...o voo já atrasado 3 horas...go figure!

Tenho mais sorte. Voo TACA para Buenos Aires. Check-in? 5 minutos.
Espero duas horas na fila deles em
modo de solidariedade e de manter o contacto até à ultima. Foi um excelente grupo que por si só dava direito a um blog, dada a personalidade de cada um.

Despeço-me. Fazemos planos para nos encontrarmos em Portugal. É estranho. As despedidas são sempre estranhas mas neste momento falta uma hora e meia para o meu voo e apesar do aeroporto ser minúsculo sinto que estou a arriscar.

Bingo.

Segurança. 30 minutos. Tira botas. Verifica tudo. Fila enorme mas ao menos está a andar...

A passagem pela emigração é que é um suplício. 45 minutos. Começo a ficar nervoso. Vejo a fila gigantesca. Olho para trás e reparo que ainda tive sorte, quando cheguei, ainda era "pequena". A coisa começa a subdividir-se, analiso a questão em pormenor: quem está à minha frente, quem viaja em família, estrangeiros, guarda do SEF mais rápido..

Reparo que a passagem de um peruano demora o dobro da de um turista. Não faz grande sentido para mim mas quero lá saber...colo-me atrás de uma família gringa norte-americana. Vejo a evolução nas ilhas do lado. Não tive sorte...tive talento. Se ao menos fosse assim tão fácil nas filas de supermercado...

Chego à porta e o embarque começa. Na mouche...

5 horas depois aterro em Buenos Aires.
Aqui tenho de confessar que fiquei logo bem impressionado. Em 20 minutos tenho bagagem, emigração e pesos argentinos trocados, o meu motorista está logo à porta. Tranquilo, ainda consigo ouvir o relato do Real Madrid - Barca no radio. O Ronaldo marca um golaço, celebro baixinho que aqui é terreno hostil!...

Uma hora até o hotel, em Palermo Viejo, zona chic e hip. Cheia de boutiques e restaurantes.
Eleanora, recepcionista brasileira, mostra-me os cantos à casa. Bem "legâl"!

Vou jantar a um dos sítios por ela recomendados. Sozinho. É estranho. Pela primeira vez na viagem, sinto-me psicologicamente débil. É estranho passar de um ambiente de companheirismo no meio da alta montanha, para uma urbe citadina onde me encontro sozinho.

Janto rápido e fujo para a super cama do hotel... Nada como ver uma partida de Independiente - Boca Juniors em directo na TV para melhorar o espírito...

Imagino que o resto do grupo está algures no meio do Atlântico. Verifico as horas em Portugal. Está quase...

Life in Buenos Aires begins...

Day 13 - Machu Caganeira

Cusco - 05:00

Manhã livre mas acordo agoniado a horas indecentes. This is it! Quase quinze dias depois, o Peru apanhou-me...na sanita...que, caros leitores, como muito bem se recordam, é extremamente baixa, o que exige um esforço maior e considerável de curvatura no momento de alcance e projecção para o vómito (era capa de ser um novo recorde olímpico..).

Mais tarde, bato pelas paredes até chegar ao pequeno-almoço. São 8 horas e nem vivalma. Tento alimentar-me, preciso de alguma coisa para vomitar mais tarde. Afinal nem foi preciso e fico a conhecer os "servicios" (wc) do rés-do-chão...

Não se aflija caro leitor, a partir daqui o relato merdoso melhora.
Numa luta inglória tento fechar a super-mochila refeita com a roupa suja e souvenirs.
Despacho o check-out e fico estirado no sofá da recepção. Felizmente, temos médicas no grupo (não podia ser apenas o advogado a trabalhar sempre..)! Dou por mim rodeado de olhares esbugalhados na minha cova da morte e prescrevem-me um cocktail de comprimidos. Deve melhorar... Chá...mais chá...coca...servicios!
Lá se foram os comprimidos!

A caminho do aeroporto o Alexandre tem a solução! Oferece-me uma delícia que carrega consigo nas viagens..delícia essa usada pelos soldados japoneses na segunda guerra mundial, especialmente em situações semelhantes à minha: ameixas japonesas!

E pergunta o estimado leitor o que raio é uma ameixa japonesa? Pois bem, imagine um testículo podre. Ok...agora coma-o. Já vomitou perante a ideia?

Certo é que desde essa ameixa "Ume" (segundo o meu próprio dicionário de japonês, "ume" significa "podre-para-raio"), não mais tive problemas do género!!

Mais um dia, mais uma viagem de avião. Os próximos tempos serão assim...
Star Peru, de Cusco até Lima. Uma hora de atraso.
O Bae146 acelera pista fora. 3400m de altitude...cheio...dia quente lá fora. Recordo-me do comprimento da pista...os segundos e metros vão passando e nem mínimo vestígio de rotação...30 segundos passam na boa...não há maneira de o avião minúsculo descolar...vejo a placa dos 100m finais passar...no limite, rotate...
O bicho luta para ganhar altura, quase parece que estamos a andar de carro. A coisa deve ter uma razão de ainda de 50 pés por minuto, isso ou a ilusão óptica das montanhas circundantes a crescerem que aumenta tal meu cálculo distorcido...
Não me parece. Sinto-o a lutar. De repente e já com uma altitude de segurança mínima, pareço ouvir um dos motores a ser posto em marcha...estou com alucinações? Coincidência ou não, a razão de subida dá um "pulo".

Devo estar...melhor ir passar a cara por água fria. Entro na "toilette"...o cenário não é o melhor. Tampa da sanita é independente de todo o restante seu ser (vulgo, está jogada para um canto). Não há sinal de botão de autoclismo. O vácuo parece estar forçado/aberto...

Fujo da twilight zone e eventualmente chegamos a Lima.

Como é de dia dá para aproveitar e ver alguns pormenores deliciosos. Por exemplo, na marginal junto ao Pacífico, existem placas com rotas de evacuação em caso de tsunami! Basicamente são placas a dizer:"em caso de tsunami, fuja por aqui!", seguidas de setas amarelãa fluorescentes até pontes pedonais que conduzem a locais mais elevados.

Decido passar o resto da tarde a descansar no hotel. Desta vez o fio de água quente é já um verdadeiro duche mas tenho de me empoleirar e desencravar as calhas das cortinas para obter um mínimo de escuridão...

Recuperado, acompanho a malta para jantar num local recomendado pelo recepcionista. Um peixe que desconhecemos até hoje qual era mas
que não sabia mal... Processado tranquilamente pelo meu estômago :)

Esta é a última noite juntos. A nostalgia começa a abater-se. A conversa filosófica instala-se. Hoje para prato principal temos: facebook, o poder do controlo sobre as nossas vidas ou uma forma de entretenimento?

Como no passado, a doutrina divide-se... A conta, essa não. É paga com os últimos tostões da "bolsa da comunidade" que criamos.

No final, o deficiente do empregado diz descaradamente que a gorjeta não está incluída.. Como não é possível trocar soles de volta, deixamos os trocos restantes.

Life in Peru...ends..