segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Day 7

Cusco. 08:30

Pequeno-almoço tomado e saco azul feito (não o da Fátima Felgueiras mas o que a agência local nos deu para colocarmos os nossos pertences para os quatro dias de trekking).

Hoje o dia ainda não é de caminhada. Partimos rumo a Ollantaytambo, famoso reduto inca.

Elias - o nosso guia para estes próximos dias - brinda-nos com a simpatia e bom humor que um guia deste género de experiências deve ter. Descontraído e com pancada por fotografia, estimo que deverá ter 30 e poucos anos no máximo (mais tarde venho a saber que estou certo...32).

Percorremos Cusco à procura de um saco-cama adequado para o Alex. Apesar de o valor oferecido para o aluguer durante 6 dias ser mais que aceitável e de o saco ser o adequado (creio que suportava até -22•C), há que regatear, mesmo que isso implique perder tempo e paciência. Depois do saco, nova negociação, agora pela lanterna. No exterior, o motorista estacionado em plena rua desespera.

Seguimos caminho e o Elias começa a aperceber-se que está perante um grupo de gozões sem remédio. Entra no jogo e a viagem segue animada até aos arredores de Ollantaytambo.

Aqui, visitamos um mercado local e quando digo "local" é mesmo no sentido de sermos os únicos gringos no meio de um descampado poeirento cheio de peruanos, tendas e toda a espécie de géneros.
As fotos saem que nem pães quentes. Os porcos enfiados nos sacos, as gaiolas cheias de porquinhos-da-Índia, os cereais, os três mil tipos de batatas, a carne crua exposta ao lado da fruta, o vidente-milagreiro que numa tenda parece estar a vender um apartamento ao microfone, a azáfama dos locais carregados de sacos, as crianças envoltas em poeira, os cães vadios por todo o lado à procura de comida, os camiões a irromperem pelai mercado adentro carregados de batatas, sacos e gente...
Um espectáculo em si.

Saímos. Enquanto esperamos pelo motorista, dois espectáculos: uma verdadeira operação stop aos motociclos que povoam as estradas peruanas e uma cena indescritível mas que tentarei retratar...
Na berma da estrada, uma senhora decide comprar um porco dentro de um camião. Feito o pagamento é altura de receber o "bem". O porco é amarrado por uma pata traseira e literalmente descido pela borda do camião, de pernas para o ar até ao chão. Escusado será dizer que a viagem ainda é longa, dada a altura do camião e a reduzida dimensão da compradora. O porco dá luta, torce as patas, torce-se todo, guincha. A senhora tenta agarrá-lo mas não chega. Quando o porco dá uma valente pirueta e bate contra o camião de patas para o ar, o primeiro round é para os humanos. Segundo round, porco no chão arrastado por uma pata. A senhora bem que se esforça mas a tracção a três patas do porco é tramada. O porco começa a arrastar a a senhora pelo meio da poeira. Segundo round: porco ganhou!
Sim amigos, eu sei que estamos todos a torcer pelo porco mas a brincadeira acabou rapidamente. Finalmente o vendedor dignou-se a descer do camião e a ajudar a senhora. Em qualquer caso, há que parabenizar o derrotado.."teimoso que nem um porco!"...

Almoçamos num restaurante biológico para turistas. Chegamos cedo mas não nos livramos da típica banda peruana que usando flautas, ponchos e outros adereços fantásticos, canta grandes clássicos da música mundial (sim, creio que tocam apenas uma música peruana). Como já devem ter percebido, é o tipo de experiência que odiamos e quando o lead singer decide perguntar "amigos! de que pays sono?"(ou algo do género que o meu portunhol não consegue replicar), decido sair em defesa do grupo e responder jocosamente que somos italianos (na minha mente tinha já um par de canções italianas caso eles pedissem)...

Fugimos rapidamente dali. Rumamos às ruínas de Ollantaytambo e temos o nosso primeiro "aquecimento" para o que aí vem. Subimos 120 degraus de seguida até ao topo. A altitude nestas bandas é superior aos 2500 metros e isso nota-se na respiração mas nada que não tenhamos ultrapassado sem grande esforço.

Prova superada, rumamos ao hotel. Situado literalmente no meio do nada, parece um éden antes do caminho para o cadafalso. Essa foi a sensação com que fiquei e que viria a revelar-se certeira..

Jantar e celebração (ou aproveitar) antes da grande partida. Conscientes da dificuldade, revemos o programa (mollepata-soraypampa: 3 horas) e achamos que estamos safos...

Aproveitamos a última água quente, wifi e cama fofa.
Uma verdadeira última refeição para o condenado. Infelizmente para nós, não tínhamos noção do que verdadeiramente nos esperava...

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