terça-feira, 21 de agosto de 2012

Day 4

Hotel La Hacienda Puno. 07:00
Sala de pequeno-almoço.

Seguindo o "belo" estilo arquitectónico desta zona peruana, o topo do edifício é envidraçado, oferecendo uma magnífica vista para o lago Titicaca e para os morros.
Neste ponto, há que salientar a coerência das habitações e o facto de as mesmas encontrarem-se permanentemente no "limbo".
As casas nunca estão prontas. A família começa a empilhar tijolos de adobe (cor de barro) ou tijolo de barro mesmo, constrói o primeiro andar e deixa as vigas prontas para o andar superior, onde, esperançosamente, os filhos irão morar com as respectivas famílias que vierem a constituir.
Apesar de nenhuma parede ser rebocada, as janelas são todas envidraçadas (reflectivas em alguns casos) criando uma visão de uma cidade enorme de casas semi-rasteiras, com vigas espetadas e um fornecedor milionário de vidro.
A única pintura que costumam receber verifica-se em duas situações: publicidade pintada ou campanha eleitoral (ex: parede da frente da casa pintada com um fantástico vermelho a dizer "Keiko a presidente!").
Pergunto-me se as sondagens aqui não serão feitas pela contagem de casas pintadas...
Cereja no topo do bolo surreal: uma bela maison com porta exterior situada no segundo piso (portanto para lado algum a não ser uma queda jeitosa), não rebocada mas com uma mensagem pintada na frente da casa nos dois pisos:"esta casa no se vende!"...
Como diria o Gordon Ransay:"f..ck me!"...

Partida para o porto de Puno. Apanhamos um pequeno barco turístico todo por nossa conta. Pormenor importante, até tinha coletes salva-vidas!

Rumamos às ilhas flutuantes de Uros. Estas ilhas formam-se pela composição de fardos de junco e suas raízes terrenas, criando blocos leves e flutuantes que depois são unidos por cordas, sendo que as ilhas em si possuem depois âncoras para não andarem a passear à louca por aí...

Desembarque. Sinto-me o Neil Armstrong. Caminhar numa ilha é uma experiência em si. Os pés afundam-se nos juncos e há zonas mais reforçadas e sólidas que outras.
Ainda dizem que a Madeira está a afundar-se...visitem Uros!

Deixando de lado pormenores desinteressantes como o facto de as ilhas serem praticamente independentes, de não pagarem impostos e dos locais praticarem a troca directa entre eles (não há moeda dentro das ilhas), fico a saber que em cada ilha vivem 4 a 10 famílias.
Se uma família tiver uma desavença com outra e após a autoridade (presidente) da ilha tentar convencer a família a resolver a coisa a bem, se esta recusar e continuar a teimar na desavença, o terreno da ilha onde se situa a sua palhota é literalmente serrado e são postos a andar.
Em Uros a expressão "estás mal? Muda-te!" ganha um significado literal muito palpável e flutuante!

Visito uma palhota. Como sou um gringo importante, tenho a pontaria de de acertar na casa do presidente desta ilha. Simpático, sorridente, vê-se que está habituado a lidar e a sacar trocos a turistas.
Diz-me que o mandato dura um ano e que gostava de ser reeleito. O que ganha com isso? "A amizade" dos habitantes. Para mim isso soa a "papar as babes todas da ilha"...

Acabo por lhe comprar um típico pano feito à mão (ele diz que levam um mês e meio a fazer a coisa, eu creio que deve levar quinze dias). Começou em 120 e acabou em 100 soles (30€) + um colar.
Troca directa mas não com os gringos. O dinheiro é usado para comprarem produtos essenciais no exterior.

Volta de barco de juncos - é tudo de juncos por aqui e os habitantes andam descalços pelo que imagino que os pés deles sejam de junco também...
O nosso comandante? Um puto de 14 anos chamado Júlio César.
Manobramos pelo canal. O contraste do azul do céu cortado pela montanha terrosa, o verde dos juncos e o azul do lago cria uma paisagem ímpar. Como ainda é cedo no dia, a luz é magnifica, assim como os reflexos.

Saímos de Uros com o passaporte carimbado e levamos duas horas e meia até à ilha de Taquile.
Antiga ilha para onde eram despachados os políticos presos, é hoje um suposto exemplo do modo tradicional de vida quechua ou amari ou...qualquer coisa...
Dizem que vivem sem electricidade, sem água canalizada, sem transportes.
Chegamos e topamos logo um par de painéis solares. Tropeçamos em alguns canos que cruzam os campos mas "não são canos de água"...

Almoço e explicação sobre os modos de vida, os chapéus dos habitantes e sei lá mais o quê... Estou mais focado em tentar fotografar um grupo de crianças (hei! Isto soou mal...não sou pedófilo ok?!)...
Há qualquer coisa de fotogénico nas caras das crianças campesinas. Redondas, bochechudas e queimadas.
Que giro, uma mais pequenina está a beber aquela bebida muito tradicional...hmmm...como se chama mesmo?Ah! Coca-cola!
(pequena nota: existe também a Inka Cola, o refrigerante mais famoso do Peru...ainda não provei mas se seguir a mesma lógica das folhas de coca - sabem ao que parecem - então irei experimentar mijo pela primeira vez!)

Na mesa: sopa de quinoa (há quinoa e quínua...não sei a diferença), a qual nem a sinto fruto de ter estoirado a minha língua com o pão seco e cebolinha super picante de aperitivo; truta frita com batatas e arroz); mate de coca.
Os meus companheiros de viagem são tramados e mandam vir com o guia quanto à suposta "tradicionalidade" encontrada por toda a ilha. O homem defende-se mas acaba por reconhecer em parte.

Passeio pela ilha. Subimos uma ladeira de 100 metros e parece que o coração vai saltar do peito. A 3800 metros, um passo em subida torna-nos muito ofegantes. É a primeira vez que sentimos os efeitos da altitude. Celebramos a ocasião com um "f...-se!" (pelo menos eu celebro...)

Passeio pela ilha e apanhamos o barco de volta a Puno. Cenário magnifico e propício a interrogar-me quanto às razões de ter vindo ao Peru...Smashing pumpkins nos ouvidos e deixo-me levar pelo meio dos juncos...wtf?!! Está um porco a correr nos juncos a meio do lago!!

Regresso ao hotel e partida de grupo para jantar. Aji de galinha e copo de vinho. Regressamos animados ao hotel. Convertemos um membro do grupo a aderir ao facebook. O Alex corre a ir comprar Pisco Sour (uma espécie de aguardente peruana). O pessoal da recepção olha aparvalhado para estes gringos. Brindamos à conversão, ao pisco e a nós, tudo isto ao som de "house trance de Goa(Índia)" ecoando do portátil...

No Peru o surrealismo existe e transmite-se!

São 23:00 e temos de acordar às 05:00!
Life in Peru continues...

Temperatura real exterior: -2
Temperatura corporal: 40 (não necessariamente febre)

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