quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Day 10

Bom dia alegria!
Choveu/nevou a noite toda. Som relaxante. Dormi que nem uma pedra.

Abro a tenda e espreito. Está tudo branco de um misto de granizo, neve e gelo. Não chove mas a neblina galopa vale acima...

Uso a bacia de água quente que todos os dias nos trazem à tenda e bebo o mate de coca para despertar o organismo.

Procuro as minhas lentes de contacto. "Houston, we have a problem". Durante a noite congelaram. Encontram-se parcialmente destruídas.
Tento recuperá-las e parecem sobreviver, pelo menos para hoje...

Seguimos caminho vale abaixo por entre a neblina. Como a visibilidade é baixa e esta é uma rota alternativa, andamos às voltas até o Elias descobrir o melhor trilho.

O tempo começa a fechar. Os primeiros pingos a cair. Casaco impermeável, calças impermeáveis, botas impermeáveis...devo estar safo.

Coloco os óculos de sol. Gozam comigo mas não me importo. Os óculos filtram a forte luz natural, aumentam o contraste, descansando os olhos e facilitando a visão do terreno.

Começa a chover a sério. Vale abaixo, sempre a abrir. Passa uma hora, passam duas horas...a chuva não dá tréguas e é gélida. O que devia ser um passeio tranquilo, está a transformar-se num novo pesadelo. Não apreciamos paisagem alguma porque mal se vê o caminho.

Os impermeáveis vão absorvendo e escorrendo a água mas não há impermeável que resista a isto.

Duas horas e meia após a partida, o Alex e o Jenko retomam a sua relação amorosa. Eu também estou numa relação amorosa...com as minhas calças impermeáveis mas o romance dura pouco. Encharcado de cima abaixo, a humidade nas calças fazem-nas colar às minhas pernas. Água gélida, roupa colada, mais uma hora pela frente...

O moral cai a pique. Estamos encharcados que nem pintos. Aceleramos ao máximo. A água já chega aos boxers. Pior que tudo sabemos que será impossível trocar de roupa ao almoço...

Último esforço. É quase uma correria. Fazemos o percurso tão rapidamente que quando chegamos ao local de almoço, os cavalos ainda estão a estacionar e a equipa a montar as tendas.

Temos de esperar. À chuva...
Procuramos um abrigo entre as árvores e as bostas deixadas pelos animais.

Quase em hipotermia entramos na tenda. Impossível secar. Pego numa chávena com mate quente e passo-a repetidamente pelas calças na esperança de melhorar. Pouco ajuda.

O Alex nem fala. O Elias está com cara de caso. Eu? Estou apenas encharcado...

Após o almoço a chuva decide dar tréguas. Como descemos, a neblina desaparece, a temperatura sobe e a roupa começa a secar. Nada mau...até dá para apreciar a paisagem...

1h30 pela frente. Trilho abaixo a toda a velocidade. Momento surreal do dia: todo o trilho encontra-se povoado, bombardeado, repleto das maiores bostas animais alguma vez vistas. Graças à chuva, estes verdadeiros cócós de mamutes ocupam a largura de toda a via e sucedem-se. Parece que combinaram para fazerem as suas necessidades uns a seguir aos outros. É impossível não rir. Decidimos baptizar o trilho de "verdadeiro percurso da merd.."!

Em uma hora chegamos ao acampamento. A equipa ainda vem atrás. Visitamos umas ruínas incas e tiramos fotos. A diferença na moral do grupo é do dia para a noite. Até já estamos no meio de um mínimo de civilização!

Pedimos para acampar junto da casa de uns campesinos. A coisa já está preparada para receber campistas. Milagre dos milagres, um par de casas-de-banho minimamente decentes!

Eu e o Alex decidimos lavar a cabeça apesar do frio e da pouca ou nenhuma água quente. Os efeitos terapêuticos são de outro mundo.

Enquanto a Ana R. é atacada por um galo da casa (que lhe deixa uma valente marca na perna) e a Maya brinca com um novo amigo, o Elias faz-me sinal. Junto de uma das casas, numa esquina e no telhado, dá para ter rede móvel.

Quase inexistente, é melhor que nada e dá para dizer ao mundo que ainda estamos vivos.

Ao lanche jogamos Uno. O Elias conta anedotas e faz truques de magia com as cartas.

A noite cai e a lua ilumina o acampamento e as montanhas geladas à volta. Priceless...

Adormeço ao som do ribeiro que corre junto ao acampamento...

Life in Peru continues...e agora mais quente e seco...

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