Hotel El Corregidor. 05:00.
Acordo animado com a perspectiva de reencontrar a minha supermochila. O facto de o duche ter verdadeira água quente e pressão, associado a um fantástico champô peruano que comprei, ajudam ao espírito positivo.
Chego à sala de pequenos almoços e o aspecto é novamente surreal. Encontro apenas um argentino a cantar a típica música que ecoa pela sala enquanto masca uma molhada de folhas de coca juntamente com queijo.
Depressa chegam os meus companheiros de viagem e celebramos as boas notícias relativas à supermochila. A música deixa de ser peruana e passa para Lady Gaga e afins (go figure!)...
Reunião com a guia para os próximos dias. Peruana, pequenina e chamada Lis. Simpática e com os dentes cheios de restos de coca. Não sei dizer ao certo que idade tem. Tanto pode ter 30 como 50. É muito complicado decifrar as idades dos peruanos. Ps rostos carregam a genética de uma vida dura e gasta, queimados pelo sol e alucinados pela altitude. Tirando o Freddy que deve ter algum atraso mental, são todos simpáticos e francos.
Partimos, primeira paragem? Aeroporto de Arequipa para recolher a minha supermochila. Momento muito celerado e fotografado. Até Gilmar - o motorista - se ri.
A supermochila aguentou-se e apenas está toda suja. Como disse o Alex "ela voltou mas não fala contigo!".
Seguimos viagem para o planalto de Colca. Sempre a subir. A estrada até nem é muito esburacada e é sempre engraçado ultrapassar numa curva um camião cisterna de combustível. Felizmente que a estrada está cheia de altares e cruzes...deve ser para proteger-nos! :)
Planalto de Colca. Observamos os picos gelados e a incrível variedade de espécies típicas à solta: vicunha (deve estar mal escrito); alpacas, llamas e um bicho que geneticamente não devia ter acontecido mas que presumo ter nascido de uma noite de amor em altitude entre um coelho e uma ratazana.
As alpacas são as mais frequentes. São mais pequenas que os llamas e bem mais simpáticas. As vicunhas parecem bambis com ar alucinado.
Encontramos um grupo de alpacas guardadas por uma pastora. Tiramos fotos. A senhora quer uma "propina" (gorjeta). Dou 1 sole (a tarifa estabelecida), que corresponde a 0,30€.
Seguimos viagem e paramos num centro de interpretação do planalto e das espécies. Para todos, parece que entramos num congelador. De certeza que está abaixo dos -5 graus. Fugimos rapidamente - guia incluída - para tomar triplo mate num café abandonado: coca, poejo e outra coisa qualquer... Sabe bem e aquece.
Paramos mais à frente num miradouro. Aqui cada membro levanta a sua própria hmmm ok não me recordo do nome mas basicamente é uma pequena torre de pedras empilhadas.
Misto de oração e agradecimento.
Vemos os picos mais altos a 6500metros. O miradouro está a 4910metros mas ainda não senti problemas com a altitude. Será das folhas de coca que experimentei?
A folha de coca é cultivada em cerca de 73.000 hectares no Peru mas apenas 15% é consumida internamente, o remanescente..."não se sabe ao certo"...
A folha em si contém várias substâncias, entre as quais, a cocaína. Claro que esta não corresponde em nada à conhecida droga. Esta última é quimicamente elaborada correspondendo apenas 1% ao alcalóide da cocaína que encontramos nas folhas.
Como se consome folha de coca? Juntam-se 5 a 6 folhas, coloca-se um niquinho de catalisador (uma espécie de cinza ou barro), enrola-se e faz-se uma espécie de embrulho, trinca-se e espetamos junto do interior das bochechas. 10 minutos em cada bochecha e depois fora.
Para mim, sabe ao que parece: folhas secas e terra. Não gosto e creio que não me afectou minimamente. Fico o resto do dia com tudo a me saber a coca...
Seguimos para Chivay. Pequena cidade inca. Almoço? Pois claro, espetadinhas de alpaca. A carne não sabe mal, parece cabrito mas é rija.
Chegamos ao hotel e é uma surpresa. Pequenos bungalows e muita pinta.
Wireless!!(já começo a ser gozado pelo grupo por estar sempre à procura de wireless mas no final vêm todos perguntar-me a password...) :)
Visita guiada a Chivay. Cidade humilde, igreja simpática, mercado típico e autêntico. Depois de ver alpaca a correr e alpaca no prato, só faltava ver alpaca esventrada! Claro que todas as normas de segurança alimentar são estritamente cumpridas.
Está frio. Paramos numa barraquinha de artesanato que a guia recomendou. Feito à mão e com pêlo de alpaca original, sem sintéticos, compro Um típico gorro andino e umas luvas.
Começa a arrefecer a sério. Mesmo a calhar, seguimos para La Calera, termas com água a 80 graus. Começamos pela interior. Está concorrida mas estamos quentinhos... Passado algum tempo parece uma sauna. Como valentes gringos que somos, corremos para a exterior.ais fria mas ao ar livre, o que torna a experiência muito mais gira.
Saímos, jantamos, trocamos experiências de viagens e acabamos com conversas filosóficas.
Chegamos ao hotel, aquecedor ligado e deixaram-nos uma garrafinha de água quente dentro da cama para aquecer.
Sorrio com o mimo, olho para a minha supermochila, ela olha para mim e fazemos as pazes. No Peru, a simplicidade da vida e os pequenos detalhes trazem-nos a paz que não encontramos tão facilmente em Portugal (claro que estar num belo hotel e de papo para o ar ajuda mas deixem-me viver na ilusão!!).
Amanhã é outro dia e começa às 5 da manhã...brrrrrr...
P.S.- Tirando uma alpaca comida e outras duas esventradas e penduradas, nenhuma outra espécie foi sacrificada para este post!
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